quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Paragem 11 # o mundo em pleonasmos.

A luz clara entra pela janela de vidro e dissolve-se no ar juntamente com o som do rádio ligado. Os sons ouvidos transformam-se num estranho barulho, que faz barulho, e desaparece sem nunca mais se ver – ouvir. Para fora da janela, oposto ao lado de dentro, existem pessoas que caminham com as pernas. Um cão ladra com a boca. E o dia, que é apenas um dia, com uma noite no final, é só um dia. Só mais um dia.
A senhora idosa, que já viveu muitos anos, diz que o contrário de viver é morrer.
As ruas são caminhos e os caminhos são pegadas. Tudo numa rua, vidas e vidas.
Saio pela porta, desço para baixo, e deixo-me enlouquecer ao imaginar o que era subir contigo para cima, para o meu quarto.
Nos tons negros, escuros, do céu, que fica em cima da terra, desenha-se uma nuvem branca.
Caminhas para mim com os braços, o teu cabelo lindo, que cai da cabeça e acaba em pontas, enlouquece-me o rosto. És tu. Damos um beijo na boca, o que nos obriga a sentir os lábios um do outro. Voltámos a ser algo que não não-ser.
A esperança que largámos, por parecer quase morta, nas ruas de Outono levanta-se por entre as folhas, por entre as árvores secas. Fica suspensa no ar que transporta pedaços de tudo, de Outubro, de Outono, de corações apaixonados e vermelhos. Fica suspensa no ar na indecisão de ir ter connosco ou fugir para bem longe de nós.

Um comentário:

Anônimo disse...

oh um mundo, olha lá... num texto assim, consegues fazer-nos perceber as coisas mais óbvias que ninguém se apercebe. é bonito.

a esperança tá em todo o lado, sabias?





gosto de ti *