P. 19 # O balão

Existe um balão chamado Vida. Um balão que voa ao som do vento. Pode voar alto ou pode voar baixo. Na pior das hipóteses pode não voar; mas é uma realidade.
Agora sinto-me assim. Sinto a terra por baixo dos pés. Sinto-me baixo. Sinto-me no pior limite da altura: sinto-me no chão.
O balão voou sem mim e nem as braçadas e todo o alarido que fiz, fez o vento mudar de direcção. Sinto-me demasiado no chão e a minha vida voou.
Até podia usar uma metáfora e dizer que os meus sonhos voaram com o vento, dentro do balão. Mas a realidade é que os meus sonhos voaram da minha mente para perto da minha angústia, dentro de uma alma vazia. Para quê usar recursos expressivos em algo tão real e sólido como a Vida?
Até podia dizer que tu voaste com o vento e que agora o tempo passa devagar, porque tu não vais retorcer. Nem que queiras. Porque a Vida tem rumos decididos, que não são determinados por nós; embora nós sempre os saibamos. Mas vou dizer que foste embora e não vais voltar.
Já acreditei no amor e na amizade. Todos aqueles romances em best-seller, aqueles gestos de amizade, aquele conforto entre os lençóis me deixaram mais seguro no passado. Era feliz nessa altura. Porque acreditava em fantasias. Mas já não acredito. Agora a insegurança chegou. Chegou com o vento.
Era bom acreditar em todos aqueles filmes de domingo. Aquelas falas daquelas personagens principais eram tão bonitas que… cheguei a acreditar em… (já não acredito).
Agora, nesta vida, em terra, só sinto uma dor. Uma dor que não consigo chorar nem escrever.

O balão voou. A felicidade alguma vez existiu? Tenho tanto potencial e sou tão pouco… Sinto-me em terra. A minha Vida ainda existe; mas sinto-me em terra. Estou em terra. A Vida está lá em cima nas nuvens. Ela encalhou num sonho falhado e não vai descer sem a minha ajuda. Mas eu nada posso fazer. Estou em terra.